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"Pedagogia dos multiletramentos: Diversidade cultural e de linguagens na escola", de Roxane ROJO
No dia 22/05/2018, discutimos o texto Pedagogia dos multiletramentos: Diversidade cultural e de linguagens na escola, de Roxane Rojo.
"Por que abordar a diversidade cultural e a diversidade de linguagens na escola? Há lugar na escola para o plurilinguismo, para a multissemiose e para uma abordagem pluralista de culturas? Por que propor uma Pedagogia dos Multiletramentos?". O texto, em primeira instância, já traz tais questionamentos, o que reforça seu caráter reflexivo. Sendo assim, a autora, em seguida, contextualiza a primeira vez de seu manifesto, o qual ocorreu em 1996 e é intitulado A pedagogy of multiliteracies - Designing social futures. O objetivo era fazer com que a escola - por isso pedagogia- inserisse os novos letramentos em crescimento na sociedade atual, além de introduzir as variadas culturas presentes (e não uma cultura de massa) ao currículo já sala de aula de um mundo globalizado e preconceituoso.
Mais adiante, outros dois questionamentos: "o que é uma educação apropriada para mulheres, para indígenas, para imigrantes que não falam a língua nacional, para falantes dos dialetos não-padrão? O que é apropriado para todos no contexto de fatores de diversidade local e conectividade global cada vez mais críticos?"
Para o grupo, uma das principais razões da violência e massacres em determinados países era o não tratamento dessas questões em sala de aula. Além disso, ele fala do quão influente foi a inovação dos acessos à comunicação para a questão dos novos letramentos, de caráter multimodal ou multissemiótico e, por isso, surge o novo conceito: multiletramentos.
Outro ponto a ser observado é a relação letramentos versus multiletramentos: o primeiro aponta para "a multiplicidade e variedade das práticas letradas, valorizadas ou não, nas sociedades em geral"; o segundo "aponta para dois tipos específicos de multiplicidades presentes em nossas sociedades: a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de construção dos textos por meio dos quais ela se informa e se comunica."
A autora também ressalta que vivemos em sociedades de híbridos impuros e fronteiriços, já que se observa a mistura de culturas, raças e cores desde séculos passados em nossa sociedade. Assim, "a produção cultural se caracteriza por um processo de desterritorialização, de descoleção e de hibridação que permite que cada pessoa possa fazer "sua própria coleção", sobretudo a partir de novas tecnologias." Assim, para tal revolução, novas éticas e novas estéticas foram necessárias. A primeira porque não se baseia tanto na propriedade e a segunda porque são novos critérios de gosto.
A multiplicidade de linguagens está bastante presente em circulação social, "seja em mídias audiovisuais, digitais ou não." A autora dá o exemplo de uma revista, a qual possui imagens e referências em texto, além do próprio arranjo de diagramação. Esses textos compostos de muitas linguagens chamamos de multimodalidade ou multissemiose e, por consequência, possuem um "significado multiplicador".
Com tal constante inovação, os multiletramentos mostram que precisa-se de novas ferramentas de áudio, vídeo, tratamento de imagem, edição e diagramação, além das da escrita manual e impressa. A autora também associa a dificuldade da geração anterior com as novas tecnologias às "práticas escolares de leitura/escritas que já eram restritas e insuficientes mesmo para a "era do impresso"."
Assim, os multiletramentos são interativos, colaborativos, híbridos, fronteiriços, mestiços e, em especial, acabam por fraturar e transgredir as relações de poder estabelecidas, principalmente aquelas de controle unidirecional da comunicação e da informação.
Ao final do texto, a autora volta à pergunta: "Por que uma pedagogia dos multiletramentos?". Ora, é preciso pensar "em como as novas tecnologias da informação podem transformar nossos hábitos institucionais de ensinar e aprender". Assim, os multiletramentos são interativos, colaborativos, híbridos, fronteiriços, mestiços e, em especial, acabam por fraturar e transgredir as relações de poder estabelecidas, principalmente aquelas de controle unidirecional da comunicação e da informação.
Outro ponto a ser destacado é o requerimento de uma éticas e várias estéticas, as quais envolvem o letramento crítico: é preciso transformar o consumidor acrítico em analista crítico. E, para isso, fazem-se necessárias a metalinguagem e extraposição. Neste contexto, também pode-se fazer uma associação com o conceito de Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman, caracterizada pela "liquefação" das estruturas e instituições sociais, dado que a conjuntura atual é efêmera e mais flexível.
Levando em consideração os fatos mencionados, para realizar uma "pedagogia" dos multiletramentos, prática situada, instrução aberta, enquadramento crítico e prática transformada serão precisos . Desta forma, tal prática extremamente didática é desejo de muitos professores que prezam por uma educação mais condizente com a realidade cotidiana e, sobretudo, por aquela que forme seres humanos críticos.
Abaixo, segue o link do estudo "The Fake News Machine" que comentei em sala de aula.
http://money.cnn.com/interactive/media/the-macedonia-story/
A globalização e os avanços tecnológicos cada vez mais fortes na nossa atualidade é uma das responsáveis por trazer a tona a diversidade cultural que sempre existiu. Essa multiculturalidade tem por consequência, ao meu ver, a complexificação das demandas da sociedade. Assim, torna-se necessário novos modos de transmitir informações, com a inserção de propagandas e textos que utilizam novos letramentos e acabam por ter seu significado multiplicador. Esse tipo de significado exige novas formas de interpretações, uma vez que seu sentido é composto pela junção de elementos estéticos diferentes. Por isso, Lara, concordo com você quanto a importância da inserção dos multiletramentos na escola, para que a educação básica dê conta de ensinar uma interpretação que vá realmente ser útil na vida do aluno. Essa interpretação é muito mais complexa do que a que é ensinada atualmente, e assim, acaba-se no desinteresse dos alunos e no despreparo destes para a vida real.
O texto de Rojo é bastante crítico e informativo, ele expõe problemas atuais como a multiplicidade cultural das populações, em que não é mais possível distinguir culturas em pares antitéticos(p.13) - como diz a autora -, por exemplos do próprio texto, cultura erudita/popular, centra/marginal, canônica/de massa (p.14), deixando claro que vivemos em sociedades de híbridos impuros, fronteiriços. Rojo também coloca em cheque, a todo momento, o lugar da escola, o que se é preferido ensinar nela e como se ensina, e ao narrar sua experiencia com alunos do primeiro ano de Letras, nos passa o olhar de alguém que não nasceu nesse universo da web 2.0, mas que migrou para ele e tenta usar isso à seu favor para estabelecer novas didáticas que conversam com o universo desses jovens e, ao final, funcionaram bem com eles. É importantíssimo destacar que, na maioria dos casos, a culpa não é apenas de um agente aplicador x, mas de todo um sistema - principalmente em escolas publicas - de sucateamento da educação e seus meios (falta de laboratórios, bibliotecas e acesso de tecnologia). Como ter acesso à esses multiletramentos se, em diversos lugares, o acesso a escola em si ainda é problematico?